terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Queda...



Todas as vozes estavam ecoando em minha cabeça. Do momento que eu acordei elas começaram a berrar o caos que se estabelecia na minha excêntrica existência.
As piores noticias enchiam meus ouvidos. Já não sentia meu corpo, parecia uma espécie de transe.
Segurei o choro, prendi a respiração, impedi a lágrima.
Sozinha, entre muitas pessoas, permiti que ela rolasse por baixo do óculos de grife que exibia. Elas caiam soltas, livres, como eu não era.
Tremores, me deram a sensação mais horrível do mundo.
As sensações se chocavam e em meio a todas me permiti um momento de vislumbre: a ponte.
A água impura estava bem abaixo de meus pés. Senti aquele impulso. A necessidade de me lançar contra a morte e senti-la. Me aninhar nos braços daquele ceifador de vidas.
Não tinha medo. Seria fácil. Mentalmente me vi descendo do carro, parado no congestionamento. Corri para a ponte. Olhei para o rio que surgia logo abaixo.
O Rio cujas aguas imundas, guardavam o ódio e o descaso.
Meu coração batia mais rápido. Meu cérebro já estava prevendo o próximo ato. E não se negava a dar movimento a minhas mãos e pernas, que agilmente se agarrava ao beiral.
Sentia os olhares em minha direção. Mas, pouco me importava, eu só queira me libertar. Desatar o nó em minha garganta. Queria sentir alegrias. porque sempre me privei da felicidade por achar que era coisa para fracos. Por um instante senti medo. Mas não queria senti-lo, já que em toda minha breve existência, eu permiti que ele dominasse minha mente, meus atos. Sentia os olhares se voltando em minha direção.
Mas pouco me importava, eu só queria me libertar, desatar o nó em minha gargante. Queria sentir alegrias, porque sempre me privei da felicidade, por achar que era algo para os fracos.
Por um instante senti medo.
Mas não queria senti-lo, já que em toda a minha breve existência eu permiti que ele dominasse minha mente, meus atos.
Me furtava sempre de banalidades,acreditando que eram meras perda de tempo.
Mas... se eu pudesse voltar atrás...
Sentir a brisa do mar, tocando meu rosto naquela tarde escura e não apenas fingir agradar alguem que se completava ao meu lado, e eu nada sentia.
Nesse momento, fortes gotas de chuva caiam, as aguas impuras daquele rio tremiam ao leve toque, as ondas que se espalhavam me provocaram uma sensação formidável.
Minha cabeça... girando em órbitas...
Meus pés encontraram o beiral da ponte. Lentamente ergui meu corpo, a chuva estava apertando, podia sentir mais ainda os olhares da pequena multidão que se aglomerava por ali, naquele engarrafamento. Escutava vozes, chamando meu nome, mas eu estava decidida, não olharia para traz, assim como não pensaria na minha vida como se fosse um epitáfio, apenas viveria, e sentiria todas as emoções. Sabia bem, que se olhasse para o dono da voz que clamava por minha atenção, desistiria.
Meus batimentos cardíacos agora poderiam ser ouvidos há quilômetros de distancia, ou pelo menos eu achava. Mas a liberdade que sentia era indescritível
Agora em pé, abri lentamente meus braços, senti em meu rosto a chuva, o vento, o calor, o frio, tudo jundo.
Mas a leveza que sentira se transformara em força motriz, e era como se alguem me puxasse para as profundezas de um abismo sem fim. Não temi.
Meu maior desejo era deixar essa vida, essas pessoas, esse mundo mesquinho.
Romper os grilhões invisíveis que me condenavam a essa existência vazia.
Flashes de minha vida.
Momentos felizes.
Sorrisos, ah como era bom ver esses sorrisos.
Abraços, lágrimas...
Palavras de ódio.
Olhares.
Indiferenças...
Meus pensamentos se embaralhavam.
A lembrança dos problemas que corroíam minha consciência se tornaram distantes. Sentia apenas a queda.
Meu corpo e a gravidade, unidos, como se fossem um só.
Algo me fez despertar dessa sensação de liberdade. A dr que me atingia trouxe a tona a realidade. Meu rosto já estava tão perto daquela agua putrefata. Novamente meu coração acelerou.
A tal liberdade se tornou meu pesadelo.
Eu apenas estava afundando, desamparando, renunciando minha vida.
E para que?
Porque os problemas, as tristezas me faziam chorar?
Porque meus sonhos foram se tornando pesadelo?
Porque todos que amava simplesmente me davam as costas?
Porque como num turbilhão todos os raros momentos de alegrias, os poucos sorrisos se transformaram em lágrimas?
Para mim, não tinha mais sentido.
Que minha carne se torne mais um resto putrefato.
Que minha alma, se existe, morra junto aos meus ossos.
E que toda a felicidade que eu tive um dia, seja apenas uma boa lembrança apara aqueles que deixei para trás.
Meu rosto colado no vidro do carro, olhar para a tábua de salvação dos meus problemas. Meus membros imóveis olhavam a chuva, o céu e o inferno.
Se não pulei, perdão caro leitor, foi porque me faltou coragem.
Olhar para aquela ponte, foi como se uma parte de mim tivesse realmente pulado, e definhado até o último suspiro.
E o que sobrou... é apenas o resquício do que fui.

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